terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Espero

Tentei ser cordial no convite mas minhas palavras não camuflaram a ansiedade e insegurança que aquele encontro me provocava. Pensei em ser ríspida mas logo vi que não havia a necessidade de farpas, muito pelo contrário, era um encontro de rosas e o único espinho que por ventura machucaria não me causaria dor. Restava saber o quanto minha convidada estaria disposta a sangrar, mesmo que este fosse o último recurso para aquilo que ela e Maurice carregavam. Meu medo era ir longe demais no que de fato não me cabe, porém, a proximidade do fim nos enche de uma coragem avassaladora, nos retira o medo de consequências, nos retorna a imaturidade perdida quando descobrimos que a todo ato terá não apenas uma, mas várias consequencias.
Não, não era a imaturidade que me motivava a me encontrar com o primeiro amor de Maurice. Era como se caso eu os salvassem, estaria salvando a mim mesma. Esta foi a forma que encontrei de ver nos outros o amor que não me foi concedido. Foi, entre outros motivos, a minha forma póstuma de revelar o quanto me sinto agraciada pelo amor ofertado deste homem que não enxergo defeitos, que não vejo vestígios que denunciem melhorias, deste homem que me aceitou pela metade e mal sabe que me teve por inteira. Sinto culpa de fazê-lo sofrer novamente, de fazê-lo crer que ele não é homem que viverá de amor, logo ele, tão capacitado para isto, amar.
É inevitável que mediante o que passo eu não pense em amenizar os danos que minha saída fará na vida dos que amo. Não posso olhar os olhos de Maurice que o choro vem manso, subterrâneo e o prolongamento do ato de olhá-lo logo denunciaria que algo está errado.
Quanto mais eu descubro que o amo, mais sofro por anteceder seu sofrimento. Eu choro por antever um final que ele não merece e não pela minha morte. Eu choro por não ter tempo o suficiente de agradecer, de quebrar a promessa de ficar velha e besta de tanto amar este homem que nada pede, apenas doa. Logo ele, que tem todos os motivos para não amar, o faz por alguém que de fato não o merece. Ninguém merece o amor de Maurice, exceto esta mulher, que espero com toda minha fé, que venha hoje a esta casa.

Cecília
21/12/1989

domingo, 13 de setembro de 2009

Caixa Postal

Sem viadagem e sem rodeio: eu te amo, cara. E não me olha torto porque essa parada ainda é nova pra mim que tu tá sabendo. Sei que voce tá pensando "e a tua mulher e os teus filhos? que que tua família vai pensar?" e eu já te adianto: foda-se. Foda-se o que o vizinho vai falar, ele que vá a merda junto com todos que vierem soltar piadinhas. Mas a moral é éssa: te amo e não quero que você vá embora.
Pô, cara. Eu não ia ratear de entrar nessa sabendo que você quer cair fora, mas eu sei que você quer ficar e sei também que essa situação te incomoda e é ela que está te fazendo ir. Me dá dois dias, só o tempo de eu ir pra casa e falar pra minha mulher, explicar pra ela que não eras mais manter esse casamento e então tu vem morar comigo.
De boa, sem sacanagem. Sei que ela vai pirar, nem passa pela cabeça dela - duas semanas atrás nem passava pela minha também - mas não tô mais afim, perdeu a graça ficar inventando desculpinha pra não ir pra casa. Ela já está grilada achando que to comendo alguma estagiária ou coisa parecida, sei lá, cabeça de mulher só pensa o que não deve. O baque vai ser dizer que to saindo pra morar com outro cara. Pra morar contigo, meo !
As crianças ainda estão pequenas, não tem porque dar muito detalhe. Vou continuar sendo o paizão delas, nada muda nessa parte e desculpa tá falando essas merda tu não sabe como tá minha cabeça então releva os detalhes, cancela a passagem e encara essa comigo que sei que não vamos nos arrepender. Tô naquele hotel que a gente se vê sempre, me liga assim que escutar essa mensagem.

Régis

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Catherine

Passo meu legado a este jardim pois é nele que mais me reconheço. Catherine, apesar de só ter oito anos, já demonstrou ser referência a Maurice e não a mim. Ela é firme, porém doce, caracterizada por uma infinidade de contrastes e imprevistos que se destoam completamente da minha forma previsível. Ela se aproxima cada vez mais de Maurice nos traços e no comportamento, o que atribuo ao acaso e não a falta de receptividade. O que nos une é o amor mútuo, este que supera essa nossa carência de semelhanças.
Eu a amo e as provas desse amor são complexas demais para que ela as absorva, e a maneira que ela retribui está a anos-luz do meu entendimento. Catherine é o mistério que entrego ao mundo para ser revelado e estas cartas deixo a ela para que um dia eu me revele.

Cecília

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Aqui

Mesmo contrariando minha sensatez te permitir entrar, e voce sem o menor constrangimento se apossou da varanda e do melhor quarto. Quem passava pela frente logo via que havia vida novamente naquele espaço que outrora abrigava nada. As paredes se impregnaram da sua presença de uma forma que a sua sombra moldou-se e hoje faz parte da decoração. Então você não deu-se por satisfeito - ou cresceu sem pedir muito, igual uma planta que só pede luz e água - e invadiu mais um cômodo, e em seguida outro e em seguida outro...

O corredor, que antes era decorado por quadros meus, perdeu o charme rústico e logo se irradiou pelo brilho azul que vem da tua face. Saí eu e me instalei nos fundos, onde pensei que estaria livre da sua estalagem.

Mas não! Logo senti os primeiros sinais de que em breve deveria buscar outro lugar pois ali não caberia duas pessoas, e sem você pedir saiu eu, lhe deixando livre para reinar no que um dia cultivei a mim mesmo e chamei de lar.

Mas agora, passado tanto tempo, retorno e não vejo mais o brilho azul, a sombra na parede nem a vida que se irradia. Vejo você ali, caminhando entre os cômodos e finalmente percebi que o que dera toda aquele charme era a intersecção resultante de mim e de você, e finalmente entendi que deveria voltar e me harmonizar novamente a sua presença. Mas ainda não sei se peço licença para ocupar um coração que antes era meu ou se chego invadindo, igual fizeste comigo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Inside

...e desconfiei do pão é café oferecido. Enquanto mastigava, inconsientemene ordenava à lingua que vasculhasse o pão à procura de algum gosto estranho. E da gentileza desconfiei, e por desconfiar sem razão, vi que minha natureza é má.

Sou má, Francisco. Eu transito pelo bem por ventura, mas minha essência é má.

domingo, 19 de julho de 2009

É como perder uma perna ou um braço. Eu tateio além do meu corpo e não te acho. Me envolvo no abraço que não te dei e sinto um arrepio que me confirma que você não está ali pra responder. Não me sinto mais autêntica, está faltando partes que perdi no caminho da tua casa. Não me reconheço no meu reflexo, vejo teu rosto na minha pupila.

Eu me [sinto sua. Falta] algo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ninho vazio

Não, não há nada da minha história naquele bebê. Ele nasceu nu e branco, exatamente as referências que me ligam a ele. Ou melhor, que não me ligam a coisa alguma.
Não sinto ódio nem nada. Por Deus, Francisco ! Eu não odeio aquele bebê, apenas não me reconheço nele.
Ele é um estranho que saiu de dentro de mim, só isso. E essa cobrança de um amor que não oferto me faz rejeitá-lo, deixando-o chorar noite adentro por vergonha que sinto em dar-lhe o peito.
Descobri tarde demais que não possuo instinto materno e não desejo nada dependente a mim. Não sinto votnade de vê-lo crescer, nem fico procurando semelhanças suas ou minhas no rosto dele.
Apesar de eu estar do lado do berço, ele nasceu órfão de pai e mãe e esse choro icessante talvez não seja apenas fome mas também a forma que ele encontrou para manifestar o seu luto.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Origens

Apesar de todo o esforço realizado, de toda a cortesia e educação que tive desde o momento que fui gentilmente recebido no aeroporto, nada ameniza a agonia de esperar o desfecho.
Tudo girava em torno de minha presença e toda aquela atenção me sufocava, pois sabia que a qualquer momento seria dissecado, e o passado que sempre esteve comigo seria exposto como uma aberração circense.
Tentei reaver a paz de espirito e prossegui com a encenação mas logo após ter o prato servido pela empregada, interrompi a anfitriã que assoprava o que seria sua primeira colherada.

- O que voce quer de mim? falei num tom mais alto do que gostaria, quebrando o silencio que unia meu corpo ao dela. Como um reflexo involuntário, ela suavemente colocou a colher de volta ao prato e me fitou diretamente. Foi entao que notei que seus olhos eram verdes. Verdes e frios.

- Eu que pergunto, Francisco. O que voce quer? Antes de aceitar a minha proposta, você ja tinha em mãos tudo que precisava para entrar com uma ação judicial e qualquer juíz com meio cérebro daria a causa ganha. Mas respondendo a sua pergunta, eu quero, através de voce, entender quem foi de fato a minha mãe.

- Está certo. Respondi e ao ouvi-la, notei alívio em sua resposta. Talvez ela ansiava por minha interrupção e pela minha objetividade.

- Mas antes, quero gravar toda a conversa. Voce se importa?

Antes que eu respondesse, ela já havia tirado dois minigravadores da bolsa e os posicionou no centro da mesa e antecipando a pergunta que faria, respondeu:

- Uma via fica comigo e a outra pra voce. Decidi gravar pois não quero que nenhum detalhe me escape.

CONTINUA

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Passando a limpo

Durantes esses dias que estive fora, reli estas cartas e noto que a imagem que transpasso aqui não condiz muito com o que sou do lado de fora. Se algum dia elas vazassem e pessoas que nunca tiveram contato comigo as lêssem, garanto, sem a menor sombra de dúvidas, que eu receberia uma indicação pra algum remake de novela mexicana.
Quem me vê aqui, sentada com as pernas cruzadas, meu cabelo preso e irretocável, vestindo esse casaco e com esta cara desprovidada de qualquer emoção, não imagina a catarse que trago dentro de mim.
Engraçado como sobriedade em mim é feromônio. Estou aqui, tapada até o pescoço e escrevendo em meu laptop e aquele homem perto do balcão não desgruda os olhos de mim. A vida adora me dar presentes que não estou disposta a aceitar...
Será que você sente ciúmes enquanto faço este comentário? Eu imagino - e espero - que sim. Aliás, esperar é o melhor verbo que me acompanha quando penso em ti.
Espero e espero e espero. E também me engano. E um dia espero mudar, e caso não mude meu comportamento, me mudo de país novamente pois algo deve ser feito. Há muito tempo deixou de ser saudável essa condição que voluntariamente me aprisionei.
Estou com 27 e isso quer dizer que você está com 33. Será que já tem alguns fiozinhos grisalhos perdidos entre seus lindos cabelos pretos? Imagino que você ficará lindo grisalho e agradeça ao seu avô por seus olhos azuis, dessa forma você se torna um lindo rascunho do Tom Cruise. E o irmão mais novo do George Clooney saiu do balcão e neste instante ergue um copo de chocolate quente em minha direção.

E eu aceitei.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sua estupidez

Meu bem, meu bem
Você tem que acreditar em mim
Ninguém pode destruir assim um grande amor
Não dê ouvidos à maldade alheia e creia
Sua estupidez não lhe deixa ver
que eu te amo

Meu bem, meu bem
Use a inteligência uma vez só
Quantos idiotas vivem só sem ter amor
E você vai ficar também sózinha
Eu sei porque
Sua estupidez não lhe deixa ver
que eu te amo

Quantas vezes eu tentei falar
Que no mundo não há mais lugar
Prá quem toma decisões na vida sem pensar
Conte ao menos até três
Se precisar conte outra vez
Mas pense outra vez
Meu bem, meu bem, meu bem
Eu te amo

Meu bem, meu bem
Sua incompreensão já é demais
Nunca vi alguém tão incapaz de compreender
Que o meu amor é bem maior que tudo que existe
Mas sua estupidez não lhe deixa ver
Eu eu te amo

domingo, 24 de maio de 2009

Ainda sobre aquilo...

Estranho definir. Onde começa e acaba e as fases onde uma coisa vira outra. E se eu disser que ao invés de te odiar ou reprimir amor eu sinto que não sinto, você me entenderia?
E se eu te disser que asfaltei a estrada e que agora, com as placas de "Pare" e as sinaleiras está apenas mais fácil trafegar, mas que isso não elimina a necessidade de seguir em frente?
Não sei qual metáfora usar, não quero me esforçar pra te envolver na minha verdade e uma tentativa de enfiar isso na tua cabeça seria o mesmo que confessar que ela está errada.
Apenas seja e não busque explicações, isso facilitará bastante e não me procure pois quando você me toca deixo uma mancha. Minha essência é de papel-carbono e só sai com muita água e sabão.
Tá acompanhando o meu raciocínio? Estou sofrendo.
Como que você quer que eu explique o que se passa se sentimentos não obedecem lógica? Não posso exemplificar com nada que você domine porque aqui dentro é fantasia e você me exige respostas práticas. Se ainda te amo, se já te amei, se te odeio. Que necessidade é essa de se saber amado ou odiado? Qual a necessidade de eu me investigar pra tentar arrancar isso de mim?
Não posso te dar um sim ou um não hoje e nunca terei condições pois não há como mapear até onde sua presença me afeta. Um sim e um não me exigira isso: saber até onde você me causa sensações e quais seriam, quando na verdade te sinto no hiato entre os dois extremos.

Fernando

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Meu plano

Engraçado como sempre me eduquei para não valorizar demais o amor. Não o valorizando, eu o deixaria livre e talvez o consumisse até o fim sem esse medo de ficar sem reservas.
Gostaria de te beber no bico, de encher a cara e falar aqueles clichês de gente boba e apaixonada. Dizer-te que enchergo no fim dessa rua a casa que inventei para nós morarmos. Na entrada, haveria um balcão de carvalho lustroso onde em cima estaria repleto de retratos nossos, um para cada ano que pasasse ao seu lado.
As paredes seriam azuis, para combinar com seus olhos e na sala haveria um piano enfeitado com um jarro decorado onde não te faltaria primaveras.
O quintal seria grande o suficiente para abrigar seu gosto hereditário por animais de fazenda. Haveria muito pato, galinhascom pintinhos e até uma ou duas ovelhas, tamanha minha dedicação. Ao fundo, haverá um pequeno galpão onde eu poderei escrever coisas tristes sem perturbar a a harmonia da casa. Lá eu me conciliaria e restabeleceria a paz que momentaneamente é arrancada de mim em função dos últimos acontecimentos.
E nos dias que me acordo inverno e não te quero pela frente, andaria no meio da noite, excomungando você e tudo aquilo que estivesse em contradição ao meu estado de espírito. E quando me encontrares aqui, deitado no sofá-cama com as pernas encolhidas e fraco de tanto te odiar, me daria um abraço e se deitaria ao meu lado, reestreiando aquele amor que tenho por ti desde aquele primeiro instante.

Gustavo

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Trecho do livro que talvez eu jamais publique

Eu já previa que isso iria me acontecer pois tenho o costume de deixar tudo pra última hora. Trabalhos, compromissos, amores...Vendo uma imagem de dedicação quando na verdade usufruo do meu melhor quando a vida me sacode pelo colarinho.
Por mais que eu seja participativo e quando me interessa um aluno brilhante, sei que o resultado disso é condicionado a minha sensibilidade de notar essa força desconhecida que me atropela nos minutos finais do segundo tempo.
Então esperei por um câncer, um tumor ou alguma incapacidade gênica para começar aquilo que mesmo não reconhecendo o rosto, já sabia em mim existente. Apenas não esperava que fosse assim e como toda revolução pessoal, não esperava que fosse tão cedo.
Não sei ao certo se é este livro ou a viagem que farei em breve o desfecho que esperei de mim mesmo, acredito que este seja, junto com o que me ocorre, o marco zero que me proporcionará energia para mergulhar naquilo que ainda não sei direito e devido as circustâncias não terei tempo de verificar se esse mar dá pé.
Que eu tenha fôlego para tanto pois não sei nadar em mim, apenas me admiro ao longe pois me reconheço infinito e quando me aventuro na minha margem já sinto o repuxo. Só molho as canelas e então me afasto e não progrido. Tenho medo de morrer em mim mesmo, pois sei que não absorvo aquilo que de tão intenso, se desgarrou e virou uma poça, adquiriu o título de lago, se expandindo e adquirindo nascentes que se desprenderam do meu corpo, onde obteve um salto exponencial, desenhou o relevo, adquiriu um ecossistema próprio e agora me rodeia e me isola. Me virei mar, virei cardume, recifes, abriga aquilo que em mim se viu impossível e não revela por si só apenas com admiração.
Nunca me vi tão belo e tão desconhecido, já não sei oque eu sou mas sei que posso me surpreender a qualquer momento.
Não sei quantas vezes mordi meu próprio rabo em análises do que fiz desde meu nascimento até agora. Como não sou adepto de religião não joguei nela a busca por significado a minha existencia mas agora isso me vem claramente. Meu sentido de vida é me entender, me dar paz e o tempo está passando, e como sempre soube, esperei pelo último momento para me dar conta disso.

Luís

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

But I said 'no, no, no'

Já disse não pra tanta coisa, sabe esses clássicos infantis que narrados em filmes parecem explicações de traumas? Eu nunca descobri que Papai Noel não existia. Eu já desconfiava da sua inexistência. Não precisei ver minha tia fantasiada pra concluir isso, pra mim já era fato consumado. Nada de criança amarga, mas creio que algo em mim sempre impulsionou pra contestar as verdades inquestionáveis e não acredito que isso tenha diminuido a minha fantasia ou tenha lubridiado minha inocência. Sem traumas, mas fantasias não costumam ficar de pé por muito tempo quando indagadas, mas não façamos disso uma regra.
E então eu disse não pra coelho da páscoa, fada dos dentes, comunhão - não sei pra que forçar uma criança a aceitar algo que ela não faz a menor idéia do que é - e outros faz de conta, não sinto que isso tenha subtraído minha fantasia. Muito pelo contrário, me fez crer em fantasia de gente grande.
Vou citar uma que muito adulto não acredita: lealdade (com fidelidade ou sem). Todos meus amigos me dizem que isso é fantasia, ilusão e, bem, diga ae qual sua opinião. Mas primeiro leia a minha.
Eu acredito em lealdade porque em meu mundinho de faz de conta ela se faz presente. O meu mundinho é pequeno, não cabe muita gente, portanto, não perco tempo analisando futuros potenciais e ela se mantém ali, numa praça bem iluminada no lado sul do meu mundo, com alguns banquinhos e um silêncio iluminado por vaga-lumes (no meu mundo eles tem aos montes, quando foi a última vez que voce viu um?).
Mas tem sempre alguém que por inveja, acredito, tenta me acordar do meu faz de conta. De casos e histórias estamos repletos, mas isso não lhe dá o direito de destruir algo vital pra mim.
Antes eu pensava que não traia porque achava trabalhoso demais manter uma traição. Enganar é complicado, e pra quem não tem a prática fica difícil arrastar por muito tempo, então, sejamos praticos ! Termina antes e comece novamente com outra pessoa.
Simples e ineficaz, não é mesmo? Trair é trabalhoso sim, mas manter um relacionamento de pé é ainda mais, então não é falta de esforço que me impede, e sim o fato de abrir mão de algo que faz em mim o efeito que um papai noel fez em voce: trazer magia pro seu cotidiano.
Então se você insistir pra eu largar mão de preceitos tão bobos, terei que dizer não, não, não.

Nando

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tudo o que eu queria te dizer

Transcrever o que os olhos querem dizer é uma tarefa muito difícil quando a verdade se mescla a saudade. Digo isso porque eu poderia dizer perfeitamente isto numa carta, mas meus olhos sentem falta dos teus. É como se os dedos trabalhassem a favor do desejo que sinto e então se neguem a escrever a exatidão do que quero dizer afim de protesto em prol da tua presença.
Não consigo esmiuçar o que quero dizer, apenas consigo sentir essa coisa mal descrita que não cabe entre os parágrafos que aqui tento descrever.
Não cabe. É exatamente isso. Rompeu-se algum limite de controle que eu mantinha e desde então fiquei assim, sem saber as palavras que ordenadas, explicariam o que me faz agir dessa forma.
Eu sinto que é simples, mas sei que é inédito. Isso delimita tomar qualquer ação pois cada passo tem que ser minuciosamente pensado pois não sei onde piso e qualquer movimento mal pensado pode me arrancar uma perna, caso eu dê uma passo maior do que devo neste campo minado que é o dos sentimentos que não foram consumados.
É tarefa difícil e exige paciência. E exige autoconhecimento. E está faltando estes dois ingredientes na minha despensa.
É complicado explicar que tenho por ti um sentimento mutável. É uma espécie de relação quântica que me prende a isso. Tal qual um rochedo que você toca e está parado, a um nível subatômico seus átomos estão em eterno movimento. Inerte aos olhos, mas quando a mente se expande, sabe-se que lá dentro há energia e nada está parado. Parado e em movimento, não haveria definição melhor.
Por fora, há um rancor sem igual. É quando me escoro na lista de motivos que voce me deu e consumo toda a minha casca em te repudiar. E te firo, te martelo, te alfineto com um vodu imaginário e mesmo longe, a milhas, te causo dor. Te odeio parado porque quem odeia não segue em frente, fica ali a uma distancia razoável para saber se o golpe desferido atingiu. E quando te atinge, me perco, e numa razão totalmente ilógica, não me entendo.
E então a verdade que meu cérebro me deu se choca com a verdade que só eu enxergo que existe. São verdades tão contraditórias e ao mesmo tempo tão complementares que o resultado só poderia ser esse mesmo: estou parado e em movimento ao mesmo tempo.
A frustração que sinto me estaciona e então não consigo amar mais ninguém. O amor que tenho por ti se move, se expande, toma novas formas e se movimenta a uma velocidade que não consigo acompanhar. É ele desacelerar um pouco que te odeio, e quando ele avança um metro me acho assim, amando e amando e amando.
E se te mando cartas envenenadas e depois te ligo, saiba que não é jogo meu. É um reflexo involuntário de um amor que mesmo morto, ainda dá sinal de vida.

Patty

sábado, 24 de janeiro de 2009

Still

...e então concluo que só tenho duas escolhas: ou me decepo as mãos ou continuo a escrever, porque a razão das linhas que crio ainda se torna irredutível, me tornando escrava de um sentimento que não sei ao certo se terá fim. Eu deveria erguer um templo sem portas e ali ao centro lhe pôr como santo. E como toda beata, colocaria em razão de vida a sua espera, sendo esta a justificativa de não haver portas em tal lugar afim de não criar o menor empecilho caso você volte. E então daria uma razão insensata e regraria a mãos de ferro isso que ainda vive em mim. Um amor que vive de pão e água.
E em delírios criaria profecias, espalharia que você voltaria e consertaria tudo o que está errado ou então, apocalíptica, rezaria pelo meu consumo. Me entregaria as brasas que o inferno me reserva ou imaginaria algo melhor no céu. Não sei ao certo ainda em qual ilusão me apego pois não defino se este amor é bom ou ruim. Segue-se a incerteza, e tal qual a beata se apega ao terço para elevar as rezas, suplico ao Deus que inventei que lhe envie essas poucas linhas e que me apazigue em espírito. E que Ele escolha por mim uma direção a ser tomada pois ainda insisto em olhar pra trás, pra ver onde o vento apagou as suas pegadas ou ainda, esperançosa que só eu sei ser, se avisto um rastro de ti.

Patty

Um World Trade Center no meu coração

Será que a morte resolve? Não quero que sofra dores físicas. Só quero que não exista mais, pra eu não ter que esperar todo dia pelo dia de você voltar.
É que há épocas em que estou lúcida e te odeio muito - cato o saco de motivos que me deu, e vasculho até lhe desejar o fim. Mas há outras em que me falha a memória e a saudade me trás você bom, adorável. Aí amo e amo e amo até me perder na ilusão. Só vou reaver-me dias depois, já de joelhos vasculhando o chão a procura de minha vida.Nessas horas, daria o senso de humor e um dedo mindinho pra saber o que você anda pensando aí nas distâncias.
Pensa na guerra do Iraque? Nos planetas não descobertos? Deseja aprender o chinês? Pensa em mim quando acorda? E quando vai dormir? Inventa casas para morarmos, planeja viagens pelo Tibet, escolhe veleiros para atravessarmos o pacífico?
Preciso tanto arrumar tempo pra aprender a te querer menos, mas ando muito ocupada remendando um coração partido. É tarefa longa, não costuro bem. E longa é a avenida de clichês que se engarrafam no rush da minha cabeça. Amor burro.
Às vezes me assolam desejos insanos. Quero subir no farol da praia e gritar seu nome bem alto. Quero pichar o Pão de Açúcar com versos apaixonados. Desejo plantar bandeiras de amor nos arranha-céus de Xangai e anseio por lavar o chão da rodoviária de São Paulo ou marchar sobre os cotovelos, se isso tornar provável nossa estória impossível. E tem dias de decisões. Nenhuma lágrima mais, nenhum lamento!
Plantarei um World Trade Center inatacável dentro do meu coração.
Cavalgarei quatro luas no cavalo que você me deu pra noite engolir o escuro que há dentro de mim. Acenderei uma alameda de velas pra te celebrar. No dia de teus anos, acompanhada dos seres que amam sem medo, irei, em procissão, pedir à Mãe que te liberte para amar assim. Pedirei também que tua vida seja boa e feliz. E construirei uma capela na colina mais bonita, pra lembrar a Deus que tenho esperanças. Sento ali e espero um milagre. E depois de cinqüenta anos, se nada acontecer, morro eu, cansada por sofrer dores físicas a cada dia que meu corpo gritou pelo seu. E olha que eu só queria andar de mãos dadas e viver contente a seu lado.

Maitê Proença

Sem título

Quase chorei. Pensei no que escrever e não veio nada. Me desesperei e comecei a escrever pra espantar o real motivo do choro: um abraço não dado.To escrevendo pra distrair, mas escrever sobre o que se quer esquecer é atirar no proprio pé. Um abraço, cara. Quando foi o ultimo?Hoje me deu vontade de vestir um logo e ir a praia. huahuah, adorei essa "gíria" que quer dizer fazer o absurdo q ñ nos permitimos. Coerente né? Maitê anda me surpreendendo...Semana de provas, então, vou embora mais cedo. Dá tempo de ler, e ando lendo muito. Sobre muitos assuntos, acho um pouco de cada um no que leio. "Qual a palavra que nunca foi dita?". Essa é velha né? Agora pergunto: qual o sentimento que nunca foi sentido?Nóspoderiamos aprender muito com isso: tudo que vivemos alguem ja viveu, ja testemunhou, ja se rendeu, ja se gladiou. Meia duzia vive pelo sentimento que sentimos ou morrem por não suportar mais. Só muda os destinatários.Segundas, terças, sextas-feiras santas. Tudo de certo modo ja foi vivido mas a grande surpresa e a graça é essa aqui: Ja foi vivido pelos outros, não por nós mesmos. Ate sobre a morte ando questionando, mas essa ninguem tem experiencia. Ou os q tem falam na famosa luz. Não acredito nessa porralouquice, na boa, mas qdo eu morrer não vou olhar pra ela. Ou vou encarar nos olhos. Dependerá do que desejo: descanso ou segundo tempo?Só eu e Deus saberemos. Ou nem ele. Adoro surpreender.

Fernando