domingo, 24 de maio de 2009

Ainda sobre aquilo...

Estranho definir. Onde começa e acaba e as fases onde uma coisa vira outra. E se eu disser que ao invés de te odiar ou reprimir amor eu sinto que não sinto, você me entenderia?
E se eu te disser que asfaltei a estrada e que agora, com as placas de "Pare" e as sinaleiras está apenas mais fácil trafegar, mas que isso não elimina a necessidade de seguir em frente?
Não sei qual metáfora usar, não quero me esforçar pra te envolver na minha verdade e uma tentativa de enfiar isso na tua cabeça seria o mesmo que confessar que ela está errada.
Apenas seja e não busque explicações, isso facilitará bastante e não me procure pois quando você me toca deixo uma mancha. Minha essência é de papel-carbono e só sai com muita água e sabão.
Tá acompanhando o meu raciocínio? Estou sofrendo.
Como que você quer que eu explique o que se passa se sentimentos não obedecem lógica? Não posso exemplificar com nada que você domine porque aqui dentro é fantasia e você me exige respostas práticas. Se ainda te amo, se já te amei, se te odeio. Que necessidade é essa de se saber amado ou odiado? Qual a necessidade de eu me investigar pra tentar arrancar isso de mim?
Não posso te dar um sim ou um não hoje e nunca terei condições pois não há como mapear até onde sua presença me afeta. Um sim e um não me exigira isso: saber até onde você me causa sensações e quais seriam, quando na verdade te sinto no hiato entre os dois extremos.

Fernando

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Meu plano

Engraçado como sempre me eduquei para não valorizar demais o amor. Não o valorizando, eu o deixaria livre e talvez o consumisse até o fim sem esse medo de ficar sem reservas.
Gostaria de te beber no bico, de encher a cara e falar aqueles clichês de gente boba e apaixonada. Dizer-te que enchergo no fim dessa rua a casa que inventei para nós morarmos. Na entrada, haveria um balcão de carvalho lustroso onde em cima estaria repleto de retratos nossos, um para cada ano que pasasse ao seu lado.
As paredes seriam azuis, para combinar com seus olhos e na sala haveria um piano enfeitado com um jarro decorado onde não te faltaria primaveras.
O quintal seria grande o suficiente para abrigar seu gosto hereditário por animais de fazenda. Haveria muito pato, galinhascom pintinhos e até uma ou duas ovelhas, tamanha minha dedicação. Ao fundo, haverá um pequeno galpão onde eu poderei escrever coisas tristes sem perturbar a a harmonia da casa. Lá eu me conciliaria e restabeleceria a paz que momentaneamente é arrancada de mim em função dos últimos acontecimentos.
E nos dias que me acordo inverno e não te quero pela frente, andaria no meio da noite, excomungando você e tudo aquilo que estivesse em contradição ao meu estado de espírito. E quando me encontrares aqui, deitado no sofá-cama com as pernas encolhidas e fraco de tanto te odiar, me daria um abraço e se deitaria ao meu lado, reestreiando aquele amor que tenho por ti desde aquele primeiro instante.

Gustavo

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Trecho do livro que talvez eu jamais publique

Eu já previa que isso iria me acontecer pois tenho o costume de deixar tudo pra última hora. Trabalhos, compromissos, amores...Vendo uma imagem de dedicação quando na verdade usufruo do meu melhor quando a vida me sacode pelo colarinho.
Por mais que eu seja participativo e quando me interessa um aluno brilhante, sei que o resultado disso é condicionado a minha sensibilidade de notar essa força desconhecida que me atropela nos minutos finais do segundo tempo.
Então esperei por um câncer, um tumor ou alguma incapacidade gênica para começar aquilo que mesmo não reconhecendo o rosto, já sabia em mim existente. Apenas não esperava que fosse assim e como toda revolução pessoal, não esperava que fosse tão cedo.
Não sei ao certo se é este livro ou a viagem que farei em breve o desfecho que esperei de mim mesmo, acredito que este seja, junto com o que me ocorre, o marco zero que me proporcionará energia para mergulhar naquilo que ainda não sei direito e devido as circustâncias não terei tempo de verificar se esse mar dá pé.
Que eu tenha fôlego para tanto pois não sei nadar em mim, apenas me admiro ao longe pois me reconheço infinito e quando me aventuro na minha margem já sinto o repuxo. Só molho as canelas e então me afasto e não progrido. Tenho medo de morrer em mim mesmo, pois sei que não absorvo aquilo que de tão intenso, se desgarrou e virou uma poça, adquiriu o título de lago, se expandindo e adquirindo nascentes que se desprenderam do meu corpo, onde obteve um salto exponencial, desenhou o relevo, adquiriu um ecossistema próprio e agora me rodeia e me isola. Me virei mar, virei cardume, recifes, abriga aquilo que em mim se viu impossível e não revela por si só apenas com admiração.
Nunca me vi tão belo e tão desconhecido, já não sei oque eu sou mas sei que posso me surpreender a qualquer momento.
Não sei quantas vezes mordi meu próprio rabo em análises do que fiz desde meu nascimento até agora. Como não sou adepto de religião não joguei nela a busca por significado a minha existencia mas agora isso me vem claramente. Meu sentido de vida é me entender, me dar paz e o tempo está passando, e como sempre soube, esperei pelo último momento para me dar conta disso.

Luís