É como perder uma perna ou um braço. Eu tateio além do meu corpo e não te acho. Me envolvo no abraço que não te dei e sinto um arrepio que me confirma que você não está ali pra responder. Não me sinto mais autêntica, está faltando partes que perdi no caminho da tua casa. Não me reconheço no meu reflexo, vejo teu rosto na minha pupila.
Eu me [sinto sua. Falta] algo.
domingo, 19 de julho de 2009
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Ninho vazio
Não, não há nada da minha história naquele bebê. Ele nasceu nu e branco, exatamente as referências que me ligam a ele. Ou melhor, que não me ligam a coisa alguma.
Não sinto ódio nem nada. Por Deus, Francisco ! Eu não odeio aquele bebê, apenas não me reconheço nele.
Ele é um estranho que saiu de dentro de mim, só isso. E essa cobrança de um amor que não oferto me faz rejeitá-lo, deixando-o chorar noite adentro por vergonha que sinto em dar-lhe o peito.
Descobri tarde demais que não possuo instinto materno e não desejo nada dependente a mim. Não sinto votnade de vê-lo crescer, nem fico procurando semelhanças suas ou minhas no rosto dele.
Apesar de eu estar do lado do berço, ele nasceu órfão de pai e mãe e esse choro icessante talvez não seja apenas fome mas também a forma que ele encontrou para manifestar o seu luto.
Não sinto ódio nem nada. Por Deus, Francisco ! Eu não odeio aquele bebê, apenas não me reconheço nele.
Ele é um estranho que saiu de dentro de mim, só isso. E essa cobrança de um amor que não oferto me faz rejeitá-lo, deixando-o chorar noite adentro por vergonha que sinto em dar-lhe o peito.
Descobri tarde demais que não possuo instinto materno e não desejo nada dependente a mim. Não sinto votnade de vê-lo crescer, nem fico procurando semelhanças suas ou minhas no rosto dele.
Apesar de eu estar do lado do berço, ele nasceu órfão de pai e mãe e esse choro icessante talvez não seja apenas fome mas também a forma que ele encontrou para manifestar o seu luto.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Origens
Apesar de todo o esforço realizado, de toda a cortesia e educação que tive desde o momento que fui gentilmente recebido no aeroporto, nada ameniza a agonia de esperar o desfecho.
Tudo girava em torno de minha presença e toda aquela atenção me sufocava, pois sabia que a qualquer momento seria dissecado, e o passado que sempre esteve comigo seria exposto como uma aberração circense.
Tentei reaver a paz de espirito e prossegui com a encenação mas logo após ter o prato servido pela empregada, interrompi a anfitriã que assoprava o que seria sua primeira colherada.
- O que voce quer de mim? falei num tom mais alto do que gostaria, quebrando o silencio que unia meu corpo ao dela. Como um reflexo involuntário, ela suavemente colocou a colher de volta ao prato e me fitou diretamente. Foi entao que notei que seus olhos eram verdes. Verdes e frios.
- Eu que pergunto, Francisco. O que voce quer? Antes de aceitar a minha proposta, você ja tinha em mãos tudo que precisava para entrar com uma ação judicial e qualquer juíz com meio cérebro daria a causa ganha. Mas respondendo a sua pergunta, eu quero, através de voce, entender quem foi de fato a minha mãe.
- Está certo. Respondi e ao ouvi-la, notei alívio em sua resposta. Talvez ela ansiava por minha interrupção e pela minha objetividade.
- Mas antes, quero gravar toda a conversa. Voce se importa?
Antes que eu respondesse, ela já havia tirado dois minigravadores da bolsa e os posicionou no centro da mesa e antecipando a pergunta que faria, respondeu:
- Uma via fica comigo e a outra pra voce. Decidi gravar pois não quero que nenhum detalhe me escape.
CONTINUA
Tudo girava em torno de minha presença e toda aquela atenção me sufocava, pois sabia que a qualquer momento seria dissecado, e o passado que sempre esteve comigo seria exposto como uma aberração circense.
Tentei reaver a paz de espirito e prossegui com a encenação mas logo após ter o prato servido pela empregada, interrompi a anfitriã que assoprava o que seria sua primeira colherada.
- O que voce quer de mim? falei num tom mais alto do que gostaria, quebrando o silencio que unia meu corpo ao dela. Como um reflexo involuntário, ela suavemente colocou a colher de volta ao prato e me fitou diretamente. Foi entao que notei que seus olhos eram verdes. Verdes e frios.
- Eu que pergunto, Francisco. O que voce quer? Antes de aceitar a minha proposta, você ja tinha em mãos tudo que precisava para entrar com uma ação judicial e qualquer juíz com meio cérebro daria a causa ganha. Mas respondendo a sua pergunta, eu quero, através de voce, entender quem foi de fato a minha mãe.
- Está certo. Respondi e ao ouvi-la, notei alívio em sua resposta. Talvez ela ansiava por minha interrupção e pela minha objetividade.
- Mas antes, quero gravar toda a conversa. Voce se importa?
Antes que eu respondesse, ela já havia tirado dois minigravadores da bolsa e os posicionou no centro da mesa e antecipando a pergunta que faria, respondeu:
- Uma via fica comigo e a outra pra voce. Decidi gravar pois não quero que nenhum detalhe me escape.
CONTINUA
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Passando a limpo
Durantes esses dias que estive fora, reli estas cartas e noto que a imagem que transpasso aqui não condiz muito com o que sou do lado de fora. Se algum dia elas vazassem e pessoas que nunca tiveram contato comigo as lêssem, garanto, sem a menor sombra de dúvidas, que eu receberia uma indicação pra algum remake de novela mexicana.
Quem me vê aqui, sentada com as pernas cruzadas, meu cabelo preso e irretocável, vestindo esse casaco e com esta cara desprovidada de qualquer emoção, não imagina a catarse que trago dentro de mim.
Engraçado como sobriedade em mim é feromônio. Estou aqui, tapada até o pescoço e escrevendo em meu laptop e aquele homem perto do balcão não desgruda os olhos de mim. A vida adora me dar presentes que não estou disposta a aceitar...
Será que você sente ciúmes enquanto faço este comentário? Eu imagino - e espero - que sim. Aliás, esperar é o melhor verbo que me acompanha quando penso em ti.
Espero e espero e espero. E também me engano. E um dia espero mudar, e caso não mude meu comportamento, me mudo de país novamente pois algo deve ser feito. Há muito tempo deixou de ser saudável essa condição que voluntariamente me aprisionei.
Estou com 27 e isso quer dizer que você está com 33. Será que já tem alguns fiozinhos grisalhos perdidos entre seus lindos cabelos pretos? Imagino que você ficará lindo grisalho e agradeça ao seu avô por seus olhos azuis, dessa forma você se torna um lindo rascunho do Tom Cruise. E o irmão mais novo do George Clooney saiu do balcão e neste instante ergue um copo de chocolate quente em minha direção.
E eu aceitei.
Quem me vê aqui, sentada com as pernas cruzadas, meu cabelo preso e irretocável, vestindo esse casaco e com esta cara desprovidada de qualquer emoção, não imagina a catarse que trago dentro de mim.
Engraçado como sobriedade em mim é feromônio. Estou aqui, tapada até o pescoço e escrevendo em meu laptop e aquele homem perto do balcão não desgruda os olhos de mim. A vida adora me dar presentes que não estou disposta a aceitar...
Será que você sente ciúmes enquanto faço este comentário? Eu imagino - e espero - que sim. Aliás, esperar é o melhor verbo que me acompanha quando penso em ti.
Espero e espero e espero. E também me engano. E um dia espero mudar, e caso não mude meu comportamento, me mudo de país novamente pois algo deve ser feito. Há muito tempo deixou de ser saudável essa condição que voluntariamente me aprisionei.
Estou com 27 e isso quer dizer que você está com 33. Será que já tem alguns fiozinhos grisalhos perdidos entre seus lindos cabelos pretos? Imagino que você ficará lindo grisalho e agradeça ao seu avô por seus olhos azuis, dessa forma você se torna um lindo rascunho do Tom Cruise. E o irmão mais novo do George Clooney saiu do balcão e neste instante ergue um copo de chocolate quente em minha direção.
E eu aceitei.
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