As melhoras inexplicáveis de Pedro contrapondo-se ao seu coração partido fez com que Magali indaga-se cada vez mais. Ela sabia que para Pedro morrer não era necessário muito, mas quanto mais o menino recusava-se ao tratamento, melhor ficava sua imunidade. Ela não entendia muito, e para ela não entender o caso era muito difícil dado o desenrolar da situação. Ela temia pela perda dele, não mais na relação médico-paciente. Ela o amava. E muito. E sabia-se correspondida.
O menino não andava, não alimentava-se, definhava por fora, seus olhos azuis não diziam nada. Viu-o ali, na cadeira de rodas, com a frasqueira do tubo gotejando em seu braço uma esperança vã e quis beijá-lo, mas não como fizera antes, ela queria pôr a língua na boca dele, tornar-lhe homem por via oral, um impulso sexual revestido de carinho, este mesmo sentimento que a fez direcionar o caso ao seu colega de trabalho. Desejou aquele menino sem compostura, e ali, tomada por um calor icessante que emanava do que ela supunha ser esse sentimento, guiou o menino, empurrando sua cadeira de rodas, até a sala do seu colega. Ele reconheceu o cheiro, o arranque suave e firme. Ele sabia dele. Ele sabia dela. Ambos interligados por uma sinfonia deliciosamente sofrível de sentimentos misturados. Ele quis poder vê-la, saber se seus olhos o olhavam enquanto ele ali, desnudado pela emoção, brotava uma imaturidade que o fez voltar a ter 11 anos. Sentiu medo de não senti-la mais por perto. Ela sentiu medo dele não reconhecê-la. E então, tomou-se em desejo e o levou ao seu escritório, desviando-o do seu curso inicial.
Ela teria 15 minutos para despedir-se dele. E assim o fez.
A única palavra dita por ela naquela cena foi o nome dele, que o fez virar a cabeça em sua direção. Ele estendeu o braço, mas não o sustentou no ar por muito tempo. Enquanto ele realizava o gesto de uma forma totalmente embaraçosa, ela encorajava-se para o que já havia se preparado meses. Ele só a sentiu quando seu morno lábio tocou o seu, e ela fechou os olhos para ambos ficarem equivalentes. O menino cego não soube o que sentir até perceber o movimento da língua dela, e ela sentiu o seu peito dilatar-se, expandindo-se. Ele quis controlar a ereção, achou-se bobo, depois, achou mais nada. Ela quis, e muito, sentar no colo dele, queria sentir o corpo magro dele e provou de sua lágrima que não era salgada. Ela sorveu o menino inteiro, ele deixou-se ir, embalado por ela, que conduzia tudo. A entrega foi total e recíproca e o tempo passou lentamente enquanto Magali e Pedro se amavam naquela sala onde a porta manteve-se destrancada por exatos 7 minutos e 47 segundos.
segunda-feira, 21 de março de 2011
Cinco anos antes
Sentiu um puxar invadir-lhe o peito e isso o despertou do sono. Não soube pensar se sonhava, mas sentiu o arranque de um lugar do qual não sabia e que o transportava de volta a sua cama. O lençol enchardo de suor lhe dava a certeza de algo que não soube classificar como bom ou ruim. Recolocou a mão em seu peito e sentiu presente os três tubos transparentes que formavam o cateter e isso lhe trouxe paz e quase uma felicidade. Pelo menos felicidade o foi até constatar que não havia arrancado os tubos, mas por fim, relembrou o motivo deles estarem ali e não houve tempo suficiente de formular a idéia de uma alegria. Sentiu e não sentiu. Em 10 segundos despertos havia atravessado uma montanha-russa emocional e então o sonho veio nítido ao pensamento: nele, o dia estava sol e olhava para a janela enquanto um bando de passarinhos alçavam vôo. E só. Seus sonhos não eram muito extensos como os das pessoas que conhecia. Na verdade, ele nunca sonhava algo roteirizado, era sempre uma lembrança única, como se a ânsia de acordar lhe deixasse apenas o trecho final da história no pensamento.
Lembrou da promessa da mãe e então esticou a mão ao lado do criado-mudo onde encontrava-se seu termômetro digital. Olhou para o aparelho como se pedisse um favor imenso, como se o termômetro pudesse lhe dar uma trégua conforme havia dado durante toda a última semana. Ligou-o e o pôs embaixo da axila direita e acompanhou, quase sem fôlego, o sinal sonoro que partiria dele, concedendo-lhe o passe-livre para conhecer a praia.
Enquanto esperava, sentiu os passos da mãe, que vinha da cozinha, aproximar-se do quarto e então ele lembrou do lençol encharcado de suor. Precisava livrar-se dele pois sua mãe, chata como era, julgava qualquer improviso como um sinal negativo as vontade dele. Entao ele enrolou-o e o colocou aos pés da cama, simulando que durante o sono, o havia deixado lá.
Simultâneo a mãe que entrava no quarto, o termômetro apitou e sem qualquer cerimônia, ela o tirou do menino. Ele não se mexia. Ele não respirava. Ele só ordenava o pensamento “36,5° por favor...” e a confirmação deu-se pelo sorriso da mãe.
- Já arrumou a mochila? Não podemos pegar o sol do meio dia.
O menino sorriu. Agora sim, ele sabia que era felicidade.
Lembrou da promessa da mãe e então esticou a mão ao lado do criado-mudo onde encontrava-se seu termômetro digital. Olhou para o aparelho como se pedisse um favor imenso, como se o termômetro pudesse lhe dar uma trégua conforme havia dado durante toda a última semana. Ligou-o e o pôs embaixo da axila direita e acompanhou, quase sem fôlego, o sinal sonoro que partiria dele, concedendo-lhe o passe-livre para conhecer a praia.
Enquanto esperava, sentiu os passos da mãe, que vinha da cozinha, aproximar-se do quarto e então ele lembrou do lençol encharcado de suor. Precisava livrar-se dele pois sua mãe, chata como era, julgava qualquer improviso como um sinal negativo as vontade dele. Entao ele enrolou-o e o colocou aos pés da cama, simulando que durante o sono, o havia deixado lá.
Simultâneo a mãe que entrava no quarto, o termômetro apitou e sem qualquer cerimônia, ela o tirou do menino. Ele não se mexia. Ele não respirava. Ele só ordenava o pensamento “36,5° por favor...” e a confirmação deu-se pelo sorriso da mãe.
- Já arrumou a mochila? Não podemos pegar o sol do meio dia.
O menino sorriu. Agora sim, ele sabia que era felicidade.
quinta-feira, 10 de março de 2011
"Ex"tase
Ultimamente adquiri o hobby de investigar o caroço das palavras e tem uma que ando pensando muito desde aquela nossa desastrosa tentativa de civilidade.
“Ex”. Ex é que nem filho, vai pra vida toda, é um desgarrar-se sem largar, é uma contradição dentro dela mesma. Ora, é só um prefixo usado para cessamento de etapas anteriores. Agora digo, desde quando ex é etapa encerrada? Você não é um canal que, não me agradando mais a programação, eu troco, desligo, sei lá, me distraio no meio da sala enquanto teu silêncio fica ali, pairando sobre mim.
Ex é pra sempre. É um mancar que não incomoda, já está ali, agindo simultaneamente com nosso sistema locomotor.
Ex é uma delícia. Você é e olha que te odeio! Mas sinto até um tesão nojento quando cruzo contigo, vontade de gritar, jogar sal na tua ferida. Um “ex”tase. Me desprendo do meu raciocínio, você é uma ponte que liga um desejo antigo a uma realidade impossível. Você, assim como qualquer ex, é uma nuvem em dia de sol, mas que no fundo, é bom, porque dá sombra. Descansa a pele, traz um frescor sorrateiro, um frio de morrer mas que sabemos que não dará nem gripe.
Duvido que não seja assim com qualquer um. Comportamento de ex é padrão, é rasgo, é uma extração bem-vinda de uma interessecção, sempre carregamos algo de ex conosco, nem que seja um passado. E passados são mais valiosos que presente, é o que nos torna, é a comparação, a bússola que aponta nossos desvarios e você magnetizou minha agulha, e ela sempre apontará pro teu norte.
E você? Garanto que gasta toda meia hora seguinte a esses esbarros pensando em mim. Você perde dez segundos reparando no meu cabelo e nos meus peitos, deixando todo o restante a pensar se esse nojo doentio é simultaneo. Eu sinto teu cheiro, acho que meu cheiro é igual ao seu, porque me inebrio nele, é um afrodisíaco de curta duração, o tempo suficiente de te ver virar a esquina e saber que não há passado que fará passar essa sensação indesejada mas sempre bem vinda de te trazer a minha vida.
“Ex”. Ex é que nem filho, vai pra vida toda, é um desgarrar-se sem largar, é uma contradição dentro dela mesma. Ora, é só um prefixo usado para cessamento de etapas anteriores. Agora digo, desde quando ex é etapa encerrada? Você não é um canal que, não me agradando mais a programação, eu troco, desligo, sei lá, me distraio no meio da sala enquanto teu silêncio fica ali, pairando sobre mim.
Ex é pra sempre. É um mancar que não incomoda, já está ali, agindo simultaneamente com nosso sistema locomotor.
Ex é uma delícia. Você é e olha que te odeio! Mas sinto até um tesão nojento quando cruzo contigo, vontade de gritar, jogar sal na tua ferida. Um “ex”tase. Me desprendo do meu raciocínio, você é uma ponte que liga um desejo antigo a uma realidade impossível. Você, assim como qualquer ex, é uma nuvem em dia de sol, mas que no fundo, é bom, porque dá sombra. Descansa a pele, traz um frescor sorrateiro, um frio de morrer mas que sabemos que não dará nem gripe.
Duvido que não seja assim com qualquer um. Comportamento de ex é padrão, é rasgo, é uma extração bem-vinda de uma interessecção, sempre carregamos algo de ex conosco, nem que seja um passado. E passados são mais valiosos que presente, é o que nos torna, é a comparação, a bússola que aponta nossos desvarios e você magnetizou minha agulha, e ela sempre apontará pro teu norte.
E você? Garanto que gasta toda meia hora seguinte a esses esbarros pensando em mim. Você perde dez segundos reparando no meu cabelo e nos meus peitos, deixando todo o restante a pensar se esse nojo doentio é simultaneo. Eu sinto teu cheiro, acho que meu cheiro é igual ao seu, porque me inebrio nele, é um afrodisíaco de curta duração, o tempo suficiente de te ver virar a esquina e saber que não há passado que fará passar essa sensação indesejada mas sempre bem vinda de te trazer a minha vida.
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