Em uma noite de outubro de 1692, em Salém, um povoado de Massachussets, deu-se início ao processo de caça às bruxas, que durante um ano, condenou e matou 20 pessoas, a maioria mulheres, fora 150 pessoas que ficaram a mercê do julgamento, este, que foi interrompido após o juiz Samuel Sewall declarar que havia ido longe demais nas condenações.
Uma vez acusado de bruxaria, o réu passava pelo teste que, inocente ou culpado, o levaria a morte: amarrava-se as duas mãos nas costas e o mergulhava em um lago, isso presenciado pelos familiares e toda sociedade.
Se ele sobrevivesse, seria considerado bruxo, e então, queimado em praça pública. Se morresse, teria sua reputação intacta e à família, devolvida a honra.
Agora finalmente entendi a coerência do processo.
Costumamos matar um amor para descobrirmos que ele é um amor, e sob o corpo do amor morto, damos a devida credibilidade necessária. Durante o julgamento, nada nos abala. Ali, nosso amor de mãos atadas, olhando seu reflexo na água, premeditando o fim ali encurtado e nós, parados, incrédulos, com o julgamento em curso, esperamos pela resposta.
E então a resposta vem. E é tarde demais.
Sem o amor para nos dar importância, damos ao morto o valor que não damos em vida. Esmiuçamos cada manifestação de carinho que ainda sangra na lembrança, choramos por dentro a falta dele, até da ausência consentida, e quando o corpo entorna-se de lágrimas, elas saem, respingando no cadáver frio.
E ele não se mexe. Não há Deus que o faça renascer. Não há lembrança que apazigúe nossa alma de carrasco, não há perdão para nosso ato. A culpa é nossa, não há circustãncia que amenize, só agravantes.
E então damos conta que éramos felizes. E no mesmo segundo, percebemos que não o somos mais.
Então vem o segundo processo: o sepultamento. Devemos, primeiramente, saber que não há volta e que se agarrar ao corpo de nada trará o que foi vivido, não há prolongação depois que nosso amor deu o último suspiro. Não há arrependimento nem declaração que o fará se levantar e nos abraçar.
O amor se foi. E nós ficamos.
O luto é necessário. É o período em que devemos destinar nosso amadurecimento, cobrir a alma de preto, fechar as janelas num domingo de sol, devemos voltar ao nosso bunker e nos soterrar na dor.
Até que nos perdoamos. E prometemos nunca mais repetir tal imaturidade. E só então, mais seguro de si e consciente de que não há amor que perdure em meio a tantas dúvidas, saber que a vida segue e o coração voltará a bater novamente.
E o amor, que julgamos que nunca mais sentiremos, volta, por que o amor é um sentimento oportuno, espera a assepssia do nosso coração para voltar. E ele não tem pressa.
Nós é que temos.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
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