quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Habeas Corpus

Meu amor, só nós dois sabemos o real valor dessa expressão, amar-se, assim, infinito, um mar. De onde me encontro comprometo minha sanidade com esta carta, afinal, fizemos de nossa intimidade um espetáculo, deixando a terceiros um julgamento que não lhes diz respeito. Cada casal convive com suas regras, e algumas cabe somente a nós o entendimento.

Sei que, como aquela que sofreu a dor dos teus golpes, me confere a atmosfera de vítima e desse papel abdico pois eu sempre soube que a razão do teu comportamento partia de mim, e eu, se me coubesse não aceitar as circunstâncias, deveria ter me afastado, trocado de endereço, ter feito o que cabe aquela que sofre calada e não tem o amparo de uma família que a ame ou amigos que a acolham.

Eu não, eu te instiguei a isso, te doutrinei mentalmente, fiz de você minha cobaia afim de verificar a limitação entre o gostar, o amar e a obsessão. Eu transformei o teu amor em manchetes de quinta categoria, eu te humilhei, ridicularizando sua inteligência e te guiando pra essa barbárie e não há outra versão para essa história, você apenas reagiu igual uma pequena batida no joelho que nos faz levantar a perna. Se existe culpa, assumo, não há nenhuma porcentagem que te compete.

Mesmo que haja algum impedimento legal para o nosso convívio, afinal, não sei que rumo tomou essa nossa última briga, te digo que aqui deste lado existe uma mulher apaixonada, que vê no único gesto de loucura seu, uma fonte inesgotável de ternura e que te ama na mesma proporção que você: um amor arbitrário, cego, não-convencional, louco e recíproco.

Peço que assim que ler esta carta a entregue ao seu advogado, ele está a par de toda situação e saiba que farei o que for ao meu alcance para amenizar os impactos desse nosso desvarios embora por razões médicas estou impedida de ir até o julgamento, portanto, saiba que de daqui deste hospital refaço meus votos contigo e desejo, com toda a sinceridade possível, que você consiga me perdoar e saiba analisar que fui apenas uma idiota que precisava de uma prova do quanto o seu amor por mim era forte. Agora eu já sei o quanto é.

Morrendo de saudades

Cíntia

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