Você me ganhou de presente - Paula Toller
Você me ganhou de presente
Com laço e etiqueta de garantia
Foi num dia de alegria
Você fez bem o gesto que eu queria
Mas não deu mole
Não deu mole
Não deu mole
Você não deu mole
Nunca esteve numa de me alcançar
Nem estava no 'mood' de casar
Eu sempre estive à mão, que isso me console
Mas você não
Você não deu mole
Você me ganhou de presente
No laço e na promessa de guarita
Você me sorriu na galeria
E tinha bem o gosto que eu queria,
Mas não deu mole
Não deu mole
Não deu mole, meu bem
Você não deu mole
Nunca teve medo de me ver partir
Nem vai perder seu tempo pra me desmentir
Nem me criticar
Eu que me controle
Porque você não
Você não dá mole
Se eu chorar, você até se comove
Mas assim já é demais
Nem eu me agüento
Porque eu não dou mole
Eu não dou mole
Não dou mole, meu bem
Também não dou mole...
quinta-feira, 27 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Cólera
E tua lingua que antes passou pela dela, deixou o vestígio do crime que na minha boca virou cólera. Escorreu pela garganta, veio de bom grado, porém se desmanchou até o estomago, iniciando a cólica que sinalizou o primeiro sintoma do que me envenenou.
Teu corpo, antes meu, possessivo e singular, conjugou o verbo no qual não tenho destreza: nosso. Tuas mãos, mornas e tímidas, agora estão inquietas de olho no relógio que imagino ter sido presente dela. Ele não combina com você, grande demais, acusa o tempo que me resta e diz: volte.
Teu corpo, antes meu, possessivo e singular, conjugou o verbo no qual não tenho destreza: nosso. Tuas mãos, mornas e tímidas, agora estão inquietas de olho no relógio que imagino ter sido presente dela. Ele não combina com você, grande demais, acusa o tempo que me resta e diz: volte.
terça-feira, 11 de maio de 2010
carta 27 - parte 1
Peço desculpas pela voz rouca, se eu pudesse eu lhe escreveria, mas o avanço da doença me impossibilita disso. Lembro - e lembra me é custoso que só eu sei - que foi em um dia claro, porém chuvoso, que notei que não havia firmeza no meu pulso e ele se partiu. A minha última palavra escrita foi "viver", o que soou totalmente contraditório ao que aconteceu. No segundo seguinte ao meu gemido de dor e a ouvir o som cristalino da caneta que rolou para baixo da cama eu morri, pois o que me motivava a viver era o meu desejo de ver esta história chegar aos seus olhos pois sempre tivemos um melhor entendimento pelas palavras, já que as falas, que foram escassas, se contradiziam ao que nos unia. Ou une, eu não sei, ja que não tenho notícias suas há mais de trinta anos e trinta anos não foi tempo suficiente pra te esquecer, apenas no máximo deslocou dos holofotes esse sentimento que carrego contigo, aquele primeiro, bom, e não são variantes, que voce pode acompanhar pelos meus diários.
Imagino seu constrangimento em ouvir essa voz cansada e velha, eu mesma não me reconheço com esse timbre, cansa falar no mesmo ritmo do pensamento, eu sintetizo antes de falar e esqueço, eu mesma não me reconheço, assim como ainda não reconheço de ter feito o que fiz: tornei público meu único segredo e aguardei até o último instante e morrerei esperançosa, aceita de minha irrealização e consiente do que arrisquei, e te digo, não houve risco algum, nem acertos e erros. Houve apenas fatos que não podem s classificar a mesquinhas dos nossos princípios. Não há do que se envergonhar, Francisco, e nao há lamúrias a serem feitas. Precisei renunciar a muita coisa para prosseguir com essa gravação e nunca uma renúncia foi feita com tamanha alegria, logo eu, que nunca suportei perder, aprendi que perder é processo de maturidade.
Não tenho o menor esboço de qual está sendo sua reação a tudo isso, mas peço zelo da sua parte. Não testemunhei amor maior do que este que tenho por ti, esse amor que alimenta-se dele mesmo, que nada pede, que não mediu nem se enquadrou em tudo que li e pense que fosse amar e por ser imensurável, intraduzível, soube que é amor. Te amo além de mim mesma e com toda a fúria e encanto da descoberta e com todo o amadurecimento e a saudade do fim. Não fim do amor, esse perdurou, s desgarrou de mim e segue, meu corpo que não o acompanha mais.
Cecília 19/11/1999
Imagino seu constrangimento em ouvir essa voz cansada e velha, eu mesma não me reconheço com esse timbre, cansa falar no mesmo ritmo do pensamento, eu sintetizo antes de falar e esqueço, eu mesma não me reconheço, assim como ainda não reconheço de ter feito o que fiz: tornei público meu único segredo e aguardei até o último instante e morrerei esperançosa, aceita de minha irrealização e consiente do que arrisquei, e te digo, não houve risco algum, nem acertos e erros. Houve apenas fatos que não podem s classificar a mesquinhas dos nossos princípios. Não há do que se envergonhar, Francisco, e nao há lamúrias a serem feitas. Precisei renunciar a muita coisa para prosseguir com essa gravação e nunca uma renúncia foi feita com tamanha alegria, logo eu, que nunca suportei perder, aprendi que perder é processo de maturidade.
Não tenho o menor esboço de qual está sendo sua reação a tudo isso, mas peço zelo da sua parte. Não testemunhei amor maior do que este que tenho por ti, esse amor que alimenta-se dele mesmo, que nada pede, que não mediu nem se enquadrou em tudo que li e pense que fosse amar e por ser imensurável, intraduzível, soube que é amor. Te amo além de mim mesma e com toda a fúria e encanto da descoberta e com todo o amadurecimento e a saudade do fim. Não fim do amor, esse perdurou, s desgarrou de mim e segue, meu corpo que não o acompanha mais.
Cecília 19/11/1999
carta número 9
Me ofenda, me peça pra ser sua amante, me alimente com migalhas, me seduza como uma vagabunda pois é isto que me resume mas te peço, não me olhe com ternura. Me de todos os motivos pra te odiar, a receita é fácil, me use como você usa suas toalhas, me passe pelo seu corpo e me ponha pra secar ao sol, assim há de se extingir, não há querer que não se arrebente, não há amor que pedure, não há grito que não se silencie.
Cecília
Cecília
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