Tentei ser cordial no convite mas minhas palavras não camuflaram a ansiedade e insegurança que aquele encontro me provocava. Pensei em ser ríspida mas logo vi que não havia a necessidade de farpas, muito pelo contrário, era um encontro de rosas e o único espinho que por ventura machucaria não me causaria dor. Restava saber o quanto minha convidada estaria disposta a sangrar, mesmo que este fosse o último recurso para aquilo que ela e Maurice carregavam. Meu medo era ir longe demais no que de fato não me cabe, porém, a proximidade do fim nos enche de uma coragem avassaladora, nos retira o medo de consequências, nos retorna a imaturidade perdida quando descobrimos que a todo ato terá não apenas uma, mas várias consequencias.
Não, não era a imaturidade que me motivava a me encontrar com o primeiro amor de Maurice. Era como se caso eu os salvassem, estaria salvando a mim mesma. Esta foi a forma que encontrei de ver nos outros o amor que não me foi concedido. Foi, entre outros motivos, a minha forma póstuma de revelar o quanto me sinto agraciada pelo amor ofertado deste homem que não enxergo defeitos, que não vejo vestígios que denunciem melhorias, deste homem que me aceitou pela metade e mal sabe que me teve por inteira. Sinto culpa de fazê-lo sofrer novamente, de fazê-lo crer que ele não é homem que viverá de amor, logo ele, tão capacitado para isto, amar.
É inevitável que mediante o que passo eu não pense em amenizar os danos que minha saída fará na vida dos que amo. Não posso olhar os olhos de Maurice que o choro vem manso, subterrâneo e o prolongamento do ato de olhá-lo logo denunciaria que algo está errado.
Quanto mais eu descubro que o amo, mais sofro por anteceder seu sofrimento. Eu choro por antever um final que ele não merece e não pela minha morte. Eu choro por não ter tempo o suficiente de agradecer, de quebrar a promessa de ficar velha e besta de tanto amar este homem que nada pede, apenas doa. Logo ele, que tem todos os motivos para não amar, o faz por alguém que de fato não o merece. Ninguém merece o amor de Maurice, exceto esta mulher, que espero com toda minha fé, que venha hoje a esta casa.
Cecília
21/12/1989
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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